sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

A produtividade comprometida

Adaptação do texto de Jorge J. Okubaro (O Estado de S. Paulo, B2, 31/12/12)


Uma das transformações mais notáveis do mercado de trabalho brasileiro nos anos recentes é o aumento do grau de exigência profissional para o preenchimento das vagas que vão sendo criadas. Essas mudanças estão presentes no mercado de trabalho como um todo, independente de área ou segmento.

Hoje o trabalhador precisa ter maior qualificação profissional e absorver alta tecnologia, uma vez que as técnicas modernas exigem conhecimentos específicos sobre materiais e equipamentos, além de capacidade para aprender novos métodos e procedimentos.

Para as empresas, essa transformação impõe desafios variados. No campo das relações de trabalho, é preciso lidar com uma categoria profissional com nível de conhecimento mais avançado e, por isso, disposto a exigir com mais argumentos a melhora das condições em que trabalha. Novas demandas exigem novas respostas, às vezes encontradas só depois de alguma forma de confronto.

O desafio que mais aflige as empresas, porém, é encontrar o profissional adequado para as vagas que precisam ser preenchidas. Ainda lento na identificação das mudanças no mercado de trabalho e mais lento ainda na adaptação às novas demandas do País, o sistema de ensino tradicional não consegue preparar profissionais como os que estão sendo procurados em ritmo crescente pelas empresas. Não há cursos regulares para a preparação desses trabalhadores, ou pelo menos não há na quantidade necessária ao atendimento da demanda mais intensa dos empregadores. Por isso, em nome da competitividade as empresas estão assumindo a responsabilidade de manter seus funcionários atualizados, por meio de programas de qualificação realizados dentro de suas instalações.

A escassez de profissionais, de sua parte, dá mais força aos trabalhadores no momento de negociar as condições de trabalho e, assim, estimula mudanças nas relações trabalhistas. Profissionais bem preparados podem mudar de emprego, se receberem oferta vantajosa; e, para não perder um empregado já adequadamente treinado e não incorrer nos custos de preparação de seu substituto, a empresa precisa cobrir a oferta.

O problema não se limita ao mercado de profissionais de nível superior, entre os quais certamente a escassez é mais aguda. No caso de engenheiros, pelo menos, o governo parece ter acordado para essa questão e pretende estabelecer uma ponte entre brasileiros que fazem cursos em faculdades do exterior com bolsas do programa Ciências sem Fronteiras e as empresas do País interessadas em contratá-los.

A carência de trabalhadores habilitados para as novas funções é generalizada e se transformou em sério obstáculo ao indispensável aumento da competitividade da economia brasileira. Para ser mais competitivo, o País precisa ser mais produtivo, isto é, produzir melhor e a custo menor por unidade.

Ganhos de produtividade, como tem citado com certa frequência a presidente Dilma Rousseff, exigem mais investimentos, sobretudo do setor privado - além de disponibilidade de mão de obra preparada, acrescente-se. Sem investimentos, de fato, não se amplia nem se moderniza o parque produtivo. Mas os dados recentes são frustrantes. Pior do que o mau resultado do Produto Interno Bruto (PIB) no terceiro trimestre, que cresceu apenas 0,6% em relação ao período abril-junho, foi a redução de 2% nos investimentos em máquinas, instalações e infraestrutura. É uma péssima indicação para o futuro próximo. Sem investimentos, a economia não voltará a crescer rapidamente nem ganhará produtividade.

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