Uma das transformações mais notáveis
do mercado de trabalho brasileiro nos anos recentes é o aumento do grau de
exigência profissional para o preenchimento das vagas que vão sendo criadas. Essas
mudanças estão presentes no mercado de trabalho como um todo, independente de
área ou segmento.
Hoje o trabalhador precisa ter maior
qualificação profissional e absorver alta tecnologia, uma vez que as técnicas
modernas exigem conhecimentos específicos sobre materiais e equipamentos, além
de capacidade para aprender novos métodos e procedimentos.
Para as empresas, essa transformação
impõe desafios variados. No campo das relações de trabalho, é preciso lidar com
uma categoria profissional com nível de conhecimento mais avançado e, por isso,
disposto a exigir com mais argumentos a melhora das condições em que trabalha.
Novas demandas exigem novas respostas, às vezes encontradas só depois de alguma
forma de confronto.
O desafio que mais aflige as
empresas, porém, é encontrar o profissional adequado para as vagas que precisam
ser preenchidas. Ainda lento na identificação das mudanças no mercado de
trabalho e mais lento ainda na adaptação às novas demandas do País, o sistema
de ensino tradicional não consegue preparar profissionais como os que estão
sendo procurados em ritmo crescente pelas empresas. Não há cursos regulares
para a preparação desses trabalhadores, ou pelo menos não há na quantidade
necessária ao atendimento da demanda mais intensa dos empregadores. Por isso, em
nome da competitividade as empresas estão assumindo a responsabilidade de
manter seus funcionários atualizados, por meio de programas de qualificação realizados
dentro de suas instalações.
A escassez de profissionais, de sua
parte, dá mais força aos trabalhadores no momento de negociar as condições de
trabalho e, assim, estimula mudanças nas relações trabalhistas. Profissionais
bem preparados podem mudar de emprego, se receberem oferta vantajosa; e, para
não perder um empregado já adequadamente treinado e não incorrer nos custos de
preparação de seu substituto, a empresa precisa cobrir a oferta.
O problema não se limita ao mercado
de profissionais de nível superior, entre os quais certamente a escassez é mais
aguda. No caso de engenheiros, pelo menos, o governo parece ter acordado para
essa questão e pretende estabelecer uma ponte entre brasileiros que fazem
cursos em faculdades do exterior com bolsas do programa Ciências sem Fronteiras
e as empresas do País interessadas em contratá-los.
A carência de trabalhadores
habilitados para as novas funções é generalizada e se transformou em sério
obstáculo ao indispensável aumento da competitividade da economia brasileira.
Para ser mais competitivo, o País precisa ser mais produtivo, isto é, produzir
melhor e a custo menor por unidade.
Ganhos de produtividade, como tem
citado com certa frequência a presidente Dilma Rousseff, exigem mais
investimentos, sobretudo do setor privado - além de disponibilidade de mão de
obra preparada, acrescente-se. Sem investimentos, de fato, não se amplia nem se
moderniza o parque produtivo. Mas os dados recentes são frustrantes. Pior do
que o mau resultado do Produto Interno Bruto (PIB) no terceiro trimestre, que
cresceu apenas 0,6% em relação ao período abril-junho, foi a redução de 2% nos
investimentos em máquinas, instalações e infraestrutura. É uma péssima indicação
para o futuro próximo. Sem investimentos, a economia não voltará a crescer
rapidamente nem ganhará produtividade.
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