sexta-feira, 5 de abril de 2013

Reprograme seu DNA para ser criativo

Desenvolver as cinco competências de descoberta pode transformar qualquer gestor em um inovador, como escrevem os especialistas Jeff Dyer, Hal Gregersen e Clayton M. Christensen nestes highlights do livro DNA do Inovador

CHRISTENSEN. Clayton M. DNA do Inovador. ln HSM Management. Jan/Fev/2013. p.94-7.

O lendário líder da Procter & Gamble, A.G. Lafley, costumava dizer que “inovação é o trabalho central de todos os líderes, seja o chefe de uma unidade de negócios, um líder funcional ou o CEO da empresa”. Não é assim, contudo, que a maioria dos líderes costuma pensar, como confirmamos em oito anos de pesquisas, e o fato é que os profissionais de perfil inovador frequentemente deixam as empresas.

Ocorre que Lafley está certo, porque a inovação é mais necessária do que nunca. Será, então, que os líderes mais “convencionais” que permaneceram no ambiente corporativo conseguem transformar--se em inovadores? E o que impulsionaria tal transformação? Fomos investigar. A pergunta inicial foi: “Por que algumas pessoas são mais inovadoras do que outras?”. E as respostas apareceram:
·                    elas confiam em sua “coragem de inovar” –uma propensão ativa para desafiar o status quo e uma disposição inquebrantável de assumir riscos inteligentes– para gerar impacto a partir de ideias.
·                    para que surjam ideias inovadoras, deve-se ter, sobretudo, a “competência cognitiva do pensamento associativo”, ou seja, a capacidade acima da média de fazer associações de ideias.

Em parte, isso explica por que o cérebro delas funciona dessa maneira, mas a razão maior é que elas praticam com frequência quatro competências comportamentais: questionar, observar, fazer networking e experimentar.

As cinco não são competências do outro mundo, certo? Então, por que algumas pessoas as empregam muito mais do que outras? Voltamos ao início: elas têm coragem de inovar, ou seja, estão dispostas a abraçar a missão de mudar e correr riscos para que mudanças ocorram.

Analisamos, a seguir, as cinco competências, uma por uma.

Competências de descoberta
1.                  Associar
Como Steve Jobs disse, criatividade é juntar ideias. Ele acrescentou que, quando perguntamos a pessoas criativas como fizeram algo, elas se mostram um pouco culpadas por não tê-lo feito realmente, mas apenas detectado. “Elas tiveram a capacidade de combinar experiências e sintetizar coisas novas”, observou Jobs. É assim que os inovadores pensam diferente, o que chamamos de associação, uma competência cognitiva que é a base do DNA do inovador.

Quando o cérebro absorve ativamente conhecimentos, aumentam as possibilidades de criação de ligações entre ideias enquanto ele se esforça para sintetizar as informações novas. Da mesma forma, o poder de associação pode ser desenvolvido por meio do uso ativo de perguntar, observar, cultivar o networking e experimentar.

Em nossa pesquisa, todos os inovadores de alto nível tiveram índices excelentes em associação, com os inovadores de processos mostrando competências de associação ligeiramente inferiores às de inovadores de produtos (mesmo assim, bem superiores às dos não inovadores).

Associações novas permitem chegar a ideias de negócios disruptivas. Estas surgem de três modos:

1.1.             Criação de combinações estranhas.
Às vezes, os líderes mais inovadores capturam o que parecem ser associações muito tênues entre ideias e conhecimentos, misturando e combinando conceitos muito diferentes. Assim, produzem ocasionalmente ideias incomuns que podem ser catalisadoras de ideias criativas de negócios. O fundador do eBay, Pierre Omidyar, tinha conversado com consultores que tentavam resolver o problema de transportar rapidamente produtos entre as lavouras e os consumidores. A primeira pergunta que ele fez: “Por que não despachar um pé de alface pelo correio?”. Omidyar admitiu: “Era uma ideia estúpida, mas um exemplo de como juntar duas coisas nunca somadas”.
1.2.             Zoom in e zoom out. Empreendedores inovadores “mergulham” (zoom in) para compreender as sutis nuanças da experiência particular de um cliente e “voam” (zoom out) a fim de saber como tais detalhes se encaixam no quadro maior. A síntese das duas visões leva a associações surpreendentes. Um adepto do uso do zoom in e do zoom out? Steve Jobs.
1.3.             Pensamento Lego. Se os inovadores têm algo em comum é adorar colecionar ideias, como os garotos amam colecionar Lego. Inovadores que participam com frequência de atividades de indagar, observar, conversar com pessoas e experimentar se tornam mais capazes de associar, porque desenvolvem experiências de compreender, armazenar e recategorizar todo o novo conhecimento. Os inovadores que estudamos raramente inventaram alguma coisa inteiramente nova; eles combinaram de novas maneiras ideias que haviam obtido.

2.                  Questionar
Os inovadores fazem muitas perguntas para entender melhor o que é e como poderia ser. Ignoram perguntas seguras e escolhem as que desafiam o status quo. Nossa pesquisa demonstrou que os inovadores fazem mais perguntas que os não inovadores e fazem perguntas mais provocativas. Por ter feito muitas perguntas, A.G. Lafley ajudou a virar o jogo na P&G. Ele começava conversas ou reuniões com perguntas como: “Qual é a consumidora-alvo deste produto?”; “O que você sabe sobre ela?”; “Qual o tipo de experiência que ela quer de verdade?”. Depois, mudava a linha do interrogatório para questões fortes do tipo “e se...”, procurando chegar a inovações centradas no consumidor. Suspensos confortavelmente entre
a fé e a dúvida em seus mapas, os melhores inovadores lembram que seus pontos de vista sobre o mundo nunca são territórios reais. De maneira intuitiva, dependem de uma variedade de perguntas para desenvolver uma compreensão profunda de como as coisas são de verdade, antes de testar como poderiam ser: “o que é?”, “qual é a causa?”, “por quê?”, “por que não?” e “e se...?”.

3.                  Observar
Tom Kelley, da empresa de design Ideo e autor de A Arte da Inovação (ed. Futura), escreveu que a pesquisa do antropólogo é a maior fonte de inovação em sua empresa. Os antropólogos desenvolveram técnicas para estudar os seres humanos em seus ambientes naturais e aprender com seus comportamentos.

Quando os clientes se tornam conscientes da tarefa que precisam cumprir, olham em volta à procura de um produto ou serviço que possam “contratar”. Observar alguém em uma circunstância particular pode levar a percepções sobre a tarefa a ser realizada –e sobre a melhor maneira de cumpri-la. A experiência de Ratan Tata com o Nano ilustra essa ideia. Sua observação inicial, de uma família na motoneta sob a chuva, levou-o a entender que o veículo não cumpria muito bem sua tarefa de transportar a família de modo seguro e sem deixá-la molhada.

Observar é uma habilidade-chave de descoberta para a maioria dos inovadores, que tendem a gerar percepções de negócios a partir de um de dois tipos de observações:

3.1.             Observar pessoas em circunstâncias diferentes ao tentarem realizar uma tarefa e obter percepções sobre qual é a tarefa que elas desejam realizar de verdade.
3.2.             Observar pessoas, processos, empresas ou tecnologias e buscar uma solução que possa ser aplicada (talvez com modificações) em um contexto diferente.

Enquanto estiver observando clientes, empresas ou outra coisa qualquer, use mais que um sentido (visão, olfato, audição, tato, paladar). Isso já foi estruturado no “diálogo no escuro” (prática desenvolvida por Andreas Heinecke) e no “diálogo no silêncio” (Heinecke e Oma Cohen), espécies de excursões cujos convidados experimentam  ambientes desconhecidos –escurecidos ou silenciosos.

Um modo menos estruturado de empregar seus sentidos é conscientizar-se deles. Por exemplo, preste atenção aos cheiros que sente na próxima vez em que visitar um cliente ou concentre- -se em como você percebe um produto quando o toca. Enquanto aprende a observar, aparecerão insights criativos.

4.                  Networking
Pensar fora da caixa exige, com frequência, ligar as ideias de sua área do conhecimento às que estão em ramos diferentes. Os inovadores ganham uma perspectiva nova quando dedicam tempo e energia a descobrir e testar ideias por meio de uma rede de pessoas diversificadas.

Nossa pesquisa revelou que empreendedores de startup e corporativos são ligeiramente melhores em formar networking de ideias do que inventores de produtos e bem melhores do que inventores de processos e não inovadores.

O princípio básico de cultivar uma rede de ideias é construir uma ponte para uma área de conhecimento diferente interagindo com alguém com quem você ou seus pares não interagiriam normalmente.

Em mais ou menos metade dos casos que estudamos, em que ideias novas chegaram por meio do networking, o feliz empreendedor praticamente tropeçou na ideia. No entanto, pessoas que cultivam com eficiência networking de ideias também fazem planos para conseguir novas ideias de modo deliberado, consultando regularmente especialistas de fora de seu grupo, participando de encontros de networking e formando uma rede pessoal de confidentes criativos.

Apesar de todos os pontos positivos do networking com especialistas de outras áreas, Scott Cook, da Intuit, pede cautela, porque há casos em que conversar com especialistas não é a melhor forma de gerar inovações. “Alguns problemas e novas ideias de negócios representam uma mudança de paradigma tão grande que conversar com pessoas reforça o paradigma atual.” O ponto é que os especialistas também têm seus pontos de vista. Assim, lembre-se de fazer perguntas contraintuitivas para desafiá-los e ouça suas respostas com um ceticismo saudável.

5.                  Experimentar
Os inovadores de negócios vivem experiências distintas das do dia a dia e desconstroem produtos e processos em busca de dados que possam provocar uma ideia. Jeff Bezos, da Amazon, tanto aprendeu que experimentar é crucial que tentou institucionalizá-lo. “Estimulo os funcionários a testar. Se você aumenta o número de experiências de cem para mil, crescem drasticamente as inovações.”

De todas as competências de descoberta, determinamos que experimentar era o melhor diferenciador entre inovadores e não inovadores. Assim, se você quiser encontrar alguém com tendência à criatividade e à inovação, avalie sua competência de experimentação.

A maioria dos inovadores de nosso estudo tinha, pelo menos, uma das três maneiras de experimentar:

5.1.             Tentar novas alternativas por exploração direta, como Jobs fez ao permanecer em um ashram na Índia ou estudar caligrafia.
5.2.             Desmontar coisas, física ou intelectualmente, como Michael Dell, quando, aos 16 anos, separou as peças de um computador.
5.3.             Testar uma ideia por meio de pilotos e protótipos, como Michael Lazaridis, o inventor do BlackBerry, ao tentar construir, na escola secundária, um campo de força semelhante ao da Star Trek.

Hábitos de descoberta
Quando praticam ativamente suas competências de descoberta, as pessoas constroem hábitos de descoberta. E são definidas por esses hábitos.

Assim, confiam cada vez mais em sua capacidade de descobrir o que vem a seguir, encorajam-se e passam a crer que a geração de insights criativos seja parte do trabalho. Como A.G. Lafley recomendou.

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