Eleita
a “palavra do ano” pela revista Time, em 2013, e no ano seguinte, pelo Oxford
Dictionary, o selfie consagrou-se como o maior
fenômeno cultural deste início de milênio e é, ao mesmo tempo, objeto de
repúdio e de compulsão.
Vejamos
o embate de opiniões contra e a favor desse fenômeno, como analisa Sérgio
Augusto na edição 846 do Observatório da Imprensa, em 14/04/2015.
1. Simon Schama, consagrado historiador em entrevista ao Guardian
E
uma idiotice instantânea (“quick dumbness”), uma “jubilosa e superficial
perversão da arte de fazer retrato”. O selfie é um registro egocêntrico,
desprovido de espontaneidade e
visualmente limitado desde o enquadramento,que
só não constrange quem faz o clique. Com o celular empinado por um pau de selfie, constrange muito mais.
2. Rachel Simmons, autora e educadora de jovens mulheres, na revista eletrônica
Slate
Ao
fechar com uma tese da jornalista Jenna Wortham, que na BBC News Magazine
defendera o selfie como uma espécie de psicotônico digital, argumentou que ele
seria especialmente benéfico para as moças, um estimulante à sua autoestima.
3. Erin Gloria Ryan, feminista, na
eletrônica Jezebel
“Corta
essa. Selfies não fortalecem mulher alguma, são um
estímulo high tech à
preservação do primado da atração física”. A pornodiva Kim Kardashian, rainha
do exibicionismo glúteo, talvez seja a prova mais notória do mal que o selfie
pode causar à psique feminina.
4. Jerry Saltz, crítico de arte da
revista New York
Ao
escrever na eletrônica Vulture, elevou o selfie à categoria de “novo gênero
visual”, um tipo de autorretrato formalmente distinto de todos que o
antecederam, especialmente porque praticado não por artistas mas por amadores,
que transformaram fotos em diálogo, em conversação digital, com repercussões
sobre o comportamento individual, a interação social, a linguagem corporal, a
noção de privacidade e o senso de ridículo. Schama
não discordaria dessas observações, somente das conclusões complacentes de
Saltz.
5. Ariel Dorfman, escritor e ensaísta
argentino
Numa
leitura sempre política, a seu ver, o atual surto de autorrepresentação digital
não só tem a ver com o descontrole da vaidade e do narcisismo proporcionado por
uma economia de mercado igualmente descontrolada como facilita o trabalho das
agências de espionagem governamentais e dos Big Brothers corporativos. Com
tanta privacidade espontaneamente exposta, nem precisam arrombar a porta.
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