terça-feira, 14 de abril de 2015

Mania dos Selfies

Eleita a “palavra do ano” pela revista Time, em 2013, e no ano seguinte, pelo Oxford Dictionary, o selfie consagrou-se como o maior fenômeno cultural deste início de milênio e é, ao mesmo tempo, objeto de repúdio e de compulsão.

Vejamos o embate de opiniões contra e a favor desse fenômeno, como analisa Sérgio Augusto na edição 846 do Observatório da Imprensa, em 14/04/2015. 

1.    Simon Schama, consagrado historiador em entrevista ao Guardian

E uma idiotice instantânea (“quick dumbness”), uma “jubilosa superficial perversão da arte de fazer retrato”. O selfie é um registro egocêntrico, desprovido de espontaneidade 
visualmente limitado desde o enquadramento,que só não constrange quem faz o clique. Com o celular empinado por um pau de selfie, constrange muito mais.

2.   Rachel Simmons, autora e educadora de jovens mulheres, na revista eletrônica Slate

Ao fechar com uma tese da jornalista Jenna Wortham, que na BBC News Magazine defendera o selfie como uma espécie de psicotônico digital, argumentou que ele seria especialmente benéfico para as moças, um estimulante à sua autoestima.

3. Erin Gloria Ryan, feminista, na eletrônica Jezebel                                    
“Corta essa. Selfies não fortalecem mulher alguma, são um 
estímulo high tech à preservação do primado da atração física”. A pornodiva Kim Kardashian, rainha do exibicionismo glúteo, talvez seja  a prova mais notória do mal que o selfie pode causar à psique feminina.

4.    Jerry Saltz, crítico de arte da revista New York

Ao escrever na eletrônica Vulture, elevou o selfie à categoria de “novo gênero visual”, um tipo de autorretrato formalmente distinto de todos que o antecederam, especialmente porque praticado não por artistas mas por amadores, que transformaram fotos em diálogo, em conversação digital, com repercussões sobre o comportamento individual, a interação social, a linguagem corporal, a noção de privacidade e o senso de ridículo. Schama não discordaria dessas observações, somente das conclusões complacentes de Saltz.

5.    Ariel Dorfman, escritor e ensaísta argentino

Numa leitura sempre política, a seu ver, o atual surto de autorrepresentação digital não só tem a ver com o descontrole da vaidade e do narcisismo proporcionado por uma economia de mercado igualmente descontrolada como facilita o trabalho das agências de espionagem governamentais e dos Big Brothers corporativos. Com tanta privacidade espontaneamente exposta, nem precisam arrombar a porta.

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