Puxado pelas estatísticas dos países ricos, o desemprego entre jovens
dispara no mundo e ameaça a economia global com efeitos que devem perdurar por
várias décadas
SEGALA. Mariana. O Drama do Desemprego entre os Jovens.
Revista Exame 08/10/2012
Na última década, a taxa de desemprego entre jovens na
Irlanda saiu de 6% para 31%, uma das maiores altas registradas entre os membros
da OCDE, o clube das nações mais ricas.
Desde a eclosão da crise, a taxa
média de desocupação entre os 15 e os 24 anos nos países desenvolvidos saltou
de 12,5% para 18%, o principal fator por trás da elevação do desemprego juvenil
em todo o mundo, um fenômeno que hoje atinge 75 milhões de pessoas.
O pior é que, até onde a vista
alcança, as vítimas precoces do desemprego não têm motivos para se animar.
Pelos cálculos da Organização Internacional do Trabalho (OIT), a situação não
deve voltar aos níveis pré-crise, no mínimo, pelos próximos cinco anos.
“Os jovens costumam ser os primeiros a sentir os efeitos de uma
recessão e também tendem a ser os últimos a sair dela”, afirma Adriana Kugler,
economista-chefe do Departamento de Trabalho dos Estados Unidos, país onde a
desocupação atinge 17% dos trabalhadores com menos de 25 anos.
No plano pessoal, o desemprego
costuma ser uma tragédia. Pesquisas realizadas nas últimas quatro décadas
comparam o estresse causado pela perda do trabalho à morte de um amigo próximo
ou à doença de um parente — quem já teve a infelicidade de passar por essa
experiência sabe exatamente o desgaste que ela pode provocar.
Do ponto de vista da sociedade como
um todo, a falta generalizada de emprego é igualmente funesta — algo que ganha
proporções desastrosas quando afeta os mais jovens. “É um desperdício deixar a
parcela mais dinâmica e criativa da força de trabalho simplesmente fora do
jogo”, afirma Theodoor Sparreboom, economista sênior da OIT.
O drama é que, caso esse quadro não
seja revertido, os jovens (e os países) afetados vão sentir seus efeitos por
décadas — mesmo quando a esperada queda do desemprego se materializar. Um
extenso estudo feito pela ONG inglesa Acevo indica que, no Reino Unido, onde a
taxa de desemprego juvenil atinge quase 22%, um ano sem trabalho na juventude
pode significar salários de 6% a 8% menores quando o profissional alcançar a
faixa dos 30 anos.
O desemprego precoce tem um efeito
tão devastador e persistente que, mesmo aos 40 anos, a pessoa pode receber até
20% menos. Deixar de trabalhar no que deveria ser o início da vida profissional
também eleva a chance de que o desemprego volte a acontecer no futuro.
“Nessa corrida, quem sai muito
depois da largada fica com lacunas no currículo, demora a formar uma rede de contatos
e, em muitos casos, acaba aceitando funções mais mal remuneradas”, diz José
Ramón Pin, professor da Escola de Negócios Iese, de Barcelona. Nesse sentido, o
caso do espanhol Carles Plasencia, de 25 anos, é esclarecedor.
Plasencia se formou em linguística e
literatura em junho na Universidade de Valência. Sem nenhuma esperança de
encontrar emprego na sua área, Plasencia já se candidatou, sem sucesso, a vagas
de garçom e de vendedor de loja. No desespero, chegou a bater na porta de um
McDonald’s, mas nem lá conseguiu o que queria.
“Se não encontrar nada até metade de
2013, vou seguir os passos de alguns amigos meus e emigrar”, diz Plasencia. A
Espanha, que, assim como a Grécia, tem mais da metade de seus jovens sem
emprego, está
vendo sua população economicamente ativa sangrar. Em 2011, 63 000 espanhóis deixaram o país, quase
60% com menos de 30 anos.
vendo sua população economicamente ativa sangrar. Em 2011, 63 000 espanhóis deixaram o país, quase
60% com menos de 30 anos.
A falta de trabalho nos primeiros
anos do percurso profissional coloca a vida em suspenso. Na Itália, onde 35%
dos jovens não encontram trabalho, a população de mammones — os marmanjos que
continuam morando na casa dos pais mesmo depois de adultos — proliferou.
Atualmente, 42% das pessoas de 25 a
34 anos permanecem sob a barra da saia materna, a maioria por razões
financeiras. Na década de 90, a proporção não chegava a um terço. Pelos
cálculos da Universidade Bocconi, de Milão, os italianos que começam a
trabalhar mais tarde têm um aprendizado mais lento e um retardo de
produtividade de cinco a dez anos em comparação à média da OCDE.
Individualmente, a procrastinação na
vida adulta é uma questão estritamente privada. Quando os adiamentos na compra
do primeiro carro, na aquisição da casa própria e na formação de uma família
ganham proporções de fenômeno social, porém, a economia como um todo sente — e
aí esse passa a ser um dos principais temas do debate público.
Um levantamento do Instituto de Pesquisa
Pew Research Center publicado neste ano mostra que 31% dos americanos até 34
anos decidiram adiar os planos de casar e ter filhos, o que complica a situação
do setor da construção. Para a indústria automobilística americana, é
justamente a menor demanda desse público que emperra a recuperação de suas
vendas.
Nos países europeus, os jovens
chamados de neets, acrônimo para not in employment, education or training (fora
do trabalho, da educação e do treinamento), custam, em média, 1,1% do PIB a
cada ano. O cálculo considera os gastos com seguro-desemprego e o que eles
deixam de produzir.
Nessa conta, porém, não constam os
custos adicionais com saúde pública. Mais da metade dos jovens desconectados do
mercado de trabalho e do mundo da educação se sente frequentemente deprimida ou
ansiosa, segundo levantamento da ONG inglesa Prince’s Trust. Apenas um terço tem esperança no
futuro, metade da taxa dos jovens que estão trabalhando. Quanto mais tempo um
jovem fica desempregado e mais entrevistas fracassadas de emprego faz, mais
suscetível fica à tristeza.
Jovens expostos a períodos longos de
recessão, costumam acreditar que o sucesso tem mais a ver com a sorte do que
com o esforço pessoal. E isso é uma catástrofe tanto do ponto de vista
econômico como do social, para eles e para seus países.
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