terça-feira, 13 de novembro de 2012

O Homem na encruzilhada para o futuro

A chamada de hoje é sobre o movimento que está instalado em toda parte na busca pela responsabilidade com o bem estar das gerações futuras.


Toda pessoa deveria ter o momento de ficar diante de si mesma, de se colocar face a face com sua trajetória e decidir o que é a sua vida e o que vai ser. Decidir se permanecerá na acomodação ou se permitirá viver com restrições.

Restrição no sentido de não mais viver o momento como se não houvesse amanhã. Em tudo que faz, o ser humano precisa agora atentar para as vidas dos outros: ser cauteloso, contido, meticuloso, com a consciência de que essa restrição é movida pela decência que deve a outros seres humanos. É a descoberta da vida que as limitações ecológicas e os interesses alheios o proíbem de viver. 

A humanidade, hoje, está dividida entre os que acreditam que não deva haver empecilhos para o desenvolvimento econômico e os que acreditam que precisam viver dentro dos limites de seus meios. A batalha travada entre os verdes e os que negam as mudanças climáticas, entre os defensores da segurança nas estradas e corredores alucinados, tende a se tornar muito mais cruel quanto mais as pessoas romperem os limites da decência, colocando suas paixões e poder acima das necessidades do próximo.

O despertar de cada um para a escala de sua responsabilidade individual está diretamente relacionado à aceitação das implicações de se viver com o amanhã em mente. A primeira delas, certamente, é abdicar de seus interesses e se preocupar com os outros, é estar convicto de que algumas coisas existem para favorecer o bem-estar de todos, sem gerar lucros para ninguém. Além disso, é preciso relativizar os meios alternativos capazes de nos fazer escapar das limitações, considerando que esquivar-se dos problemas de hoje significa multiplicá-los no futuro. Se vivemos em um planeta finito que não acomoda um crescimento perene, é fácil deduzir que, com o tempo, o crescimento nos fará atingir um novo limite, que demandará uma nova resposta global em termos dos recursos naturais.

O filósofo francês Jean-François Lyotard entende que essa necessidade de preparar o futuro para as pessoas que amamos, as nossas gerações futuras, modifica nossa relação com a coletividade: é o princípio da fraternidade que ele chama de segundo humanismo. Para ele, é o nascimento de uma nova face do humanismo em que os valores encarnam o homem e levam à transcendência do outro e do amor.

Isso quer dizer que em uma época de emergências permanentes, a grande causa pela qual vale a pena lutar e que dá sentido às nossas vidas é o mundo que vamos deixar para nossos filhos: é o outro que é digno de nosso sacrifício, objeto do nosso amor e da dedicação de nossa energia e saberes ao combate das injustiças e do sofrimento, da fome e das doenças, das drogas e do terror.

Trata-se de uma nova forma de relacionamento entre os homens e as sociedades que constituem. Uma nova forma que enseja, para todos, opções reais de como viver, o que fazer, quem amar. Cabe a cada um a escolha de tornar-se resignado ao lidar com a perversidade, a violência, a corrupção, ou de perder a esperança na capacidade de repensar suas presunções básicas e, claro, repensar o tipo de sociedade em que deseja viver.  

Entretanto, não se pode ignorar que essa decisão oscila essencialmente entre as limitadas escolhas do presente e as possibilidades ilimitadas do amanhã. Tomara que você não siga a lenda segundo a qual todo mundo quer ter sua última aventura.

Alzira J. M. Almeida. Sócia-diretora da Rhaizes, Psicóloga e Educadora.

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