Por
Alzira J. M. Almeida*
“Jovens vazios de história de vida, vazios de sonhos, conectados com o mundo menos com eles próprios. Jovens que não se localizam no mundo”.
Essa
descrição de uma professora da rede estadual/MG traduz, com muita precisão, o
que temos ouvido, recorrentemente, dos professores de todos os níveis de ensino
e dos profissionais de empresas que recebem universitários, seja para visitas
técnicas ou estágios.
Tais
relatos vêem sempre acompanhados, claro, da pergunta: como entender esse modo
de ser e de comportar-se das crianças e jovens?
Primeiramente
é preciso considerar que qualquer que seja o nível de ensino ou modalidade de
curso escolhida, há a necessidade de conhecimentos básicos, habilidades para
resolver problemas e motivação. O jovem intrinsecamente motivado é curioso,
persistente e disposto a assumir riscos, e aprende continuamente novos
conhecimentos e habilidades.
É
capaz de encontrar novas oportunidades ou criar as suas próprias nesse contexto
de mudanças em que muitas carreiras desaparecem ou se desdobram em novas
atividades ocupacionais. Ele vê sentido em tudo o que faz.
Motivação
é o mais crucial desses três objetivos educacionais e sua ausência deve ser
compreendida do ponto de vista da aprendizagem como resultado da conjunção de
uma série de fatores, os quais envolvem o aluno e o seu ambiente familiar,
social e escolar. Trata-se de um objetivo que se relaciona diretamente com os
recursos pessoais da criança e do jovem mesclados com suas possibilidades
sócio-afetivas.
A
motivação tem a ver com a maneira como eles se constroem nas relações de poder
e de saberes da família: sua estrutura
pessoal, a dinâmica familiar, o ambiente afetivo, a condição econômica e
cultural.
É
à família que cabe oferecer a melhor e mais valiosa educação no sentido de
criar condições para que os filhos realizem, ao longo de suas vidas, o melhor
de si mesmos. A confiança dos pais na
capacidade dos filhos de realizar pequenas tarefas, as atitudes de valorização
diante de seus acertos e de respeito diante de seus erros fazem da família um
ponto de referência seguro para a construção de uma auto estima positiva.
Essa capacidade de estabelecer com os filhos
uma interação afetiva na qual possam aprender sobre seu valor, sua capacidade
de realização, e desenvolver sentimentos positivos sobre si mesmos é vital na
construção de sua autoconfiança. Quanto mais a criança e o jovem acreditam em
si mesmos, no que podem fazer, mais se sentem estimulados a fazer o melhor. Ao
acreditarem na sua capacidade de obter êxito, aí, sim, passam a utilizar o
esforço, principal indicador de motivação.
Os
sentimentos do adolescente de que pode aprender, de que consegue ir adiante, assim
como os significados que constrói, são resultantes das interações que ele estabeleceu
e continua estabelecendo em seu contexto sócio-afetivo: a importância que tem
para a família, o quanto ela o respeita e quer bem.
Oferecer
ao filho oportunidade de experimentar suas capacidades, de desenvolver-se, sem
superproteção, sem pressão e cobranças inadequadas, sem comparações, sem usar
de ironias e zombarias, significa responsabilidade e comprometimento dos pais
com sua educação. Significa, sobretudo, atenção às necessidades do filho, interesse
pela sua forma de pensar e aprender, interesse por sua vida e por seu futuro.
As
práticas instaladas nas relações entre pais e filhos podem contribuir para o desenvolvimento
de muitas das habilidades emocionais, de maneira natural e tranqüila, nas
diversas situações em que as crianças e adolescentes incorrem em desrespeito,
descontrole, desorganização, falta de cuidado com seus pertences, desde que os
pais lhes dêem a devida atenção.
A identificação precoce da ausência de
motivação para a aprendizagem pode ser de muita ajuda na indicação de atitudes
positivas para superá-la. A atuação conjunta da escola e da família é decisiva.
Levar
o educando a querer aprender é o desafio primeiro do trabalho escolar, e dele
depende todas as demais iniciativas. Ter como objeto de preocupação o querer
aprender coloca em pauta a continuidade entre a educação familiar e a escolar,
buscando formas de conseguir a adesão da família para a sua tarefa de
desenvolver nos educandos atitudes positivas e duradouras em relação ao
aprender e ao educar.
Juntas
podem encorajar as crianças e adolescentes a encontrarem suas próprias soluções
para os problemas e levantarem questionamentos acerca dos conteúdos que os
ajudem a associá-los às situações
concretas de vida. As relações entre professor-aluno, aluno-aluno,
professor-aluno-família e demais participantes do processo educativo devem ser
de proximidade, baseadas em um diálogo intenso, aberto e interessado o
suficiente para permitir as trocas afetivas favoráveis aos resultados do
processo ensino-aprendizagem.
Com
isso se quer dizer que a motivação é hoje um “problema de ponta” em educação. Sua
ausência influi diretamente na satisfação das necessidades
básicas de aprendizagem e, obviamente, no progresso pessoal e social das
crianças, jovens e adultos.
Ao inibir a aprendizagem dos conhecimentos básicos e dos
comportamentos sócio-afetivos e morais repercute nos níveis superiores de
educação e de ensino, interferindo
no pleno desenvolvimento das potencialidades dos
estudantes, na sua capacidade de viver e trabalhar com dignidade, de participar
do desenvolvimento da sociedade, de tomar decisões fundamentadas e continuar
aprendendo.
Nestes termos, é urgente que família e escola se unam para formar
indivíduos de caráter forte, cidadãos responsáveis e profissionalmente
competentes. Formar, acima de tudo, pessoas seguras de si e felizes por serem
quem são.
* Psicóloga e educadora, ex-reitora do Centro Universitário do Triângulo (Unitri) e atual sócia diretora da Rhaizes.
* Psicóloga e educadora, ex-reitora do Centro Universitário do Triângulo (Unitri) e atual sócia diretora da Rhaizes.
Nenhum comentário:
Postar um comentário