sexta-feira, 6 de junho de 2014

Perfeccionismo e as Relações pais- filhos

               
Por Alzira J. M. Almeida*

Na visão dos jovens o perfeccionismo significa temor. É uma fonte geradora de conflitos por exigir das pessoas aquilo que não podem ser, por não corresponderem ao papel que delas esperam os pais, as instituições e a sociedade. Nas suas palavras, é uma luta travada entre o que “sou” e o que “não posso ser”. 

Estamos vivendo em uma sociedade regida pelo desempenho perfeito. E, nela, eventualmente, estamos sujeitos a apresentar um comportamento perfeccionista, seja pelo medo de falhar, seja pelas cobranças constantes por resultados.

Mas quando as dúvidas a respeito da qualidade do trabalho e do desempenho são frequentes, com rigidez e prudência excessivas a ponto de prejudicar a pontualidade e a eficiência, o perfeccionismo se torna uma disfunção.

Nas últimas décadas diversas investigações têm confirmado a hipótese de que  a origem do perfeccionismo está relacionada a uma "vinculação problemática" nas relações pais-filho e suas consequentes interações. Por vinculação entende-se a tendência das pessoas para estabelecer ligações afetivas com outras.

Mais recentemente, alguns autores defenderam que pais acessíveis são o único meio capaz de produzir sentimentos de segurança na criança.

Uma pesquisa com estudantes universitários revelou que o perfeccionismo em seu aspecto adaptativo se relaciona a uma vinculação segura, enquanto o perfeccionismo mal-adaptativo está associado a uma vinculação insegura.

A vinculação segura surge quando os pais são emocionalmente acessíveis e carinhosos com os seus filhos. Este tipo de vinculação fornece uma sensação de conforto e previsibilidade, encorajando a abordagem de novos desafios interpessoais e desenvolvimentais.

A vinculação insegura resulta de relações pais-criança imprevisíveis, severas e instáveis. Durante o estudo, os autores verificaram entre os adolescentes que relataram que seus pais frequentemente faziam comentários críticos e humilhantes a seu respeito ou esperavam que se destacassem em todos os aspectos das suas vidas, tinham fortes preocupações acerca de um potencial abandono, apresentando, também, desconforto em aproximar-se dos outros.

Ainda neste estudo, constatou-se que a vinculação insegura se encontrava diretamente associada a uma baixa autoestima, a atitudes disfuncionais e a um estilo em que as relações com os pais são diferentes quanto ao gênero dos adolescentes. As adolescentes demonstraram ser mais sensíveis aos efeitos da percepção de uma relação difícil com os pais.

As crianças com vinculações inseguras têm dificuldades em gerir desafios próprios do desenvolvimento e experimentam uma grande diversidade de problemas de ajustamento pessoais e interpessoais. Elas fazem generalizações acerca de si mesmos e dos outros com base nas experiências negativas com os prestadores de cuidados e parceiros íntimos. Daí desenvolvem distorções cognitivas que reforçam a dificuldade de estabelecerem vínculos duradouros e sintomatologia depressiva.

Partindo, então, de que a ideia de ser perfeito é influenciada por experiências precoces vivenciadas no ambiente familiar, é recomendável, do ponto de vista educacional, ajudar o indivíduo a aprender sobre o perfeccionismo e a fortalecer as dimensões adaptativas deste traço de personalidade. Aprender a aceitar que as coisas são imperfeitas e que errar e perder faz parte da vida.

No caso do perfeccionismo mal-adaptativo, a resistência à mudança se deve ao fato de requerer mudanças profundas nas percepções sobre o eu e os outros, o que, por sua vez, requer mudanças fundamentais nas experiências relacionais.

Ampliar a consciência de si e perceber quais características deve abandonar e quais deve fortalecer para enfrentar bem as tarefas e desafios do dia a dia é um exercício fundamental no caminho para o amadurecimento.

*Psicóloga e educadora, ex-reitora do Centro Universitário do Triângulo (Unitri) e atual sócia diretora da Rhaizes.


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