Por Alzira J. M.
Almeida*
Na visão dos jovens o
perfeccionismo significa temor. É uma fonte geradora de conflitos por exigir
das pessoas aquilo que não podem ser, por não corresponderem ao papel que delas
esperam os pais, as instituições e a sociedade. Nas suas palavras, é uma luta
travada entre o que “sou” e o que “não posso ser”.
Estamos
vivendo em uma sociedade regida pelo desempenho perfeito. E, nela,
eventualmente, estamos sujeitos a apresentar um comportamento perfeccionista,
seja pelo medo de falhar, seja pelas cobranças constantes por resultados.
Mas quando as dúvidas a respeito da qualidade
do trabalho e do desempenho são frequentes, com rigidez e prudência excessivas
a ponto de prejudicar a pontualidade e a eficiência, o perfeccionismo se torna
uma disfunção.
Nas
últimas décadas diversas investigações têm confirmado a hipótese de que a origem do perfeccionismo está relacionada a
uma "vinculação problemática" nas relações pais-filho e suas
consequentes interações. Por vinculação entende-se a tendência das pessoas para
estabelecer ligações afetivas com outras.
Mais
recentemente, alguns autores defenderam que pais acessíveis são o único meio
capaz de produzir sentimentos de segurança na criança.
Uma
pesquisa com estudantes universitários revelou que o perfeccionismo em seu
aspecto adaptativo se relaciona a uma vinculação segura, enquanto o
perfeccionismo mal-adaptativo está associado a uma vinculação insegura.
A
vinculação segura surge quando os pais são emocionalmente acessíveis e
carinhosos com os seus filhos. Este tipo de vinculação fornece uma sensação de
conforto e previsibilidade, encorajando a abordagem de novos desafios
interpessoais e desenvolvimentais.
A
vinculação insegura resulta de relações pais-criança imprevisíveis, severas e
instáveis. Durante o estudo, os autores verificaram entre os adolescentes que
relataram que seus pais frequentemente faziam comentários críticos e
humilhantes a seu respeito ou esperavam que se destacassem em todos os aspectos
das suas vidas, tinham fortes preocupações acerca de um potencial abandono,
apresentando, também, desconforto em aproximar-se dos outros.
Ainda
neste estudo, constatou-se que a vinculação insegura se encontrava diretamente
associada a uma baixa autoestima, a atitudes disfuncionais e a um estilo em que
as relações com os pais são diferentes quanto ao gênero dos adolescentes. As
adolescentes demonstraram ser mais sensíveis aos efeitos da percepção de uma
relação difícil com os pais.
As crianças com vinculações inseguras têm
dificuldades em gerir desafios próprios do desenvolvimento e experimentam uma
grande diversidade de problemas de ajustamento pessoais e interpessoais. Elas fazem
generalizações acerca de si mesmos e dos outros com base nas experiências
negativas com os prestadores de cuidados e parceiros íntimos. Daí desenvolvem
distorções cognitivas que reforçam a dificuldade de estabelecerem vínculos duradouros
e sintomatologia depressiva.
Partindo,
então, de que a ideia de ser perfeito é influenciada por experiências precoces
vivenciadas no ambiente familiar, é recomendável, do ponto de vista
educacional, ajudar o indivíduo a aprender sobre o perfeccionismo e a
fortalecer as dimensões adaptativas deste traço de personalidade. Aprender a
aceitar que as coisas são imperfeitas e que errar e perder faz parte da vida.
No
caso do perfeccionismo mal-adaptativo, a resistência à mudança se deve ao fato
de requerer mudanças profundas nas percepções sobre o eu e os outros, o que,
por sua vez, requer mudanças fundamentais nas experiências relacionais.
Ampliar
a consciência de si e perceber quais características deve abandonar e quais
deve fortalecer para enfrentar bem as tarefas e desafios do dia a dia é um
exercício fundamental no caminho para o amadurecimento.
*Psicóloga e
educadora, ex-reitora do Centro Universitário do Triângulo (Unitri) e atual
sócia diretora da Rhaizes.
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